sábado, 4 de fevereiro de 2017

De novo, a amizade.

O vento a soprar lá fora e eles por ali. Entravam na sala e sorriam, oferecendo olhares brandos e comedidos, a sondar caras e corações. Abraços e sorrisos íntimos, um como estás e como andas, perguntas que eram mantas e colos para todos se deitarem. Na sala, um espaço manso de alegria cobria algumas dores escondidas no corpo e na alma. Tudo devagar, tudo a preceito, tudo composto de gestos discretos e palavras sensíveis.  

https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/49/ed/0b/49ed0be98f41bca556f92be0a86abb98.jpgTinham vindo aos poucos, e ali estavam, queriam mostrar-se e recolher-se, gerindo em parcerias implícitas, a imensa dureza da realidade. Discorriam sobre tudo e sobre nada, dispostos a aconchegar-se entre si, resgatando pequenas histórias e vínculos que os uniam. Sentiam, uns e outros, que esse era um património justo das suas vidas. Ali estavam e ali queriam estar, para dizerem presente à convocatória mal redigida do destino. Entre surpresa e aceitação, faziam da noite uma ode à amizade, resistindo, em doses certas de coragem e persistência. Uns e outros.

Quem se pusesse à entrada da sala, podia ver a imensa serenidade dos afetos. Iluminavam-se as rugas e a cumplicidade, pelos anos de convívio e de sonhos, percetíveis nos gestos de afago e na insustentável leveza do ser. 

Quando cantaram, na penumbra da sala, souberam mais uma vez, colocar a voz e os corações ao alto. Cada palavra foi  uma espécie de grito e de flor para traduzir o presente em companhia. Amorosamente, como apenas pode ser.
 

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